quinta-feira, 8 de agosto de 2013

"Corra Como um Coelho" faz paródia inteligente de clichês

CRÍTICA COMÉDIA 

"Corra Como um Coelho" faz paródia inteligente de clichês
Peça da Cia. dos Outros apresenta série de esquetes surreais que mostram o inusitado do teatro clássico

Lenise Carvalho/Folhapress
Os atores Carlos Canhameiro (à esq.), Rodrigo Bianchini e Paula Mirhan em cena do espetáculo

CHRISTIANE VIERA
CRÍTICA DA FOLHA 

Acentuada por iluminação quente de abajures, a cor ocre domina o palco, sugerindo aconchego doméstico. No cenário, todos os objetos apontam para um familiar drama de gabinete. O vestido vermelho de uma mulher imóvel no chão, porém, instaura estranheza.
A bizarria apresentada por este quadro inicial se oficializa com a chegada de dois bêbados, em explosão inesperada e cômica. A partir daqui, uma série de esquetes flerta com um mundo clássico, obsoleto, que rapidamente será desmontado em algo inusitado.
Com direção da Cia. dos Outros, "Corra Como um Coelho" é uma reestreia e o nono espetáculo da Cia. LCT, um grupo de pesquisa teatral cuja proposta é a experimentação artística.
Muito além disso, esta montagem consegue, com encenações rápidas, concretizar uma paródia inteligente e divertida de inúmeros clichês teatrais.
O trio de atores é primoroso no jogo frenético entre estilos dramáticos neste universo onde não há abertura para justificativas ou desenhos claros de personagens.
Trata-se apenas de figuras que circulam pelo palco ao som recorrente de palmas, frisando a manobra engenhosa da trupe entre referências distintas que vão de Dorothy Parker (1893-1967) a Lewis Carroll (1832-1898). A atriz Paula Mirhan tem pleno domínio de seu carisma ao interpretar uma dondoca com tendências suicidas que se move como uma boneca em desalinho. É especialmente graciosa quando canta ou irrompe em monólogos que narram trivialidades, suas idas ao teatro e eventuais encontros.
Suas tentativas à criação de uma narrativa são sempre desbaratadas pelas invasões de Carlos Canhameiro, um ingênuo apaixonado, e Rodrigo Bianchini, um rapaz ferido por razões desconhecidas.
Seja ao despejar leveza em musical animado ou exalar testosterona em show de luta livre, os atores estão encantadores. Caberá ao espectador optar entre cavar buracos no esforço em extrair algum juízo dessas situações surreais ou então entregar-se para o prazer da caça por um teatro que corre como um coelho. Esperto e ligeiro.

CORRA COMO UM COELHO 

QUANDO sex. e sáb, às 20h30; até 24/08
ONDE Bilheteria da Galeria Olido
QUANTO Grátis
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
AVALIAÇÃO bom 

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